Atualmente na casa dos R$ 4,70, o dólar não atingia cotações tão baixas desde março de 2020. Os efeitos da movimentação cambial são muitos, mas como a queda da moeda norte-americana frente ao real impacta especificamente os pequenos empreendedores no Brasil? “Se pensarmos nos comerciantes que vendem itens importados, eles talvez consigam produtos mais baratos para vender no mercado brasileiro. Já quem faz exportações terá uma pequena perda, mas quase irrisória, uma vez que estamos falando de pequenas empresas e pequenas quantidades”, explica Marcos Stahl, consultor do Sebrae-SP. Da mesma forma, os empreendedores que dependem de insumos importados em suas cadeias produtivas e negócios tendem a se beneficiar com a baixa do dólar.
“Dependendo do segmento de mercado, o pequeno empreendedor poderá ter mais dificuldade com a queda do dólar, especialmente se ele produz no Brasil e concorre com produtos importados”, pondera Rodrigo De Losso, professor titular da Faculdade de Economia e Administração da USP. “Por exemplo: os produtores nacionais de vinhos. O preço do vinho importadodeverá cair com a queda do dólar, então quem produz aqui terá mais dificuldade”.
Por outro lado, tudo isso pode demorar para ser sentido no bolso. “É fato que se trata de uma queda pronunciada, e isso significa que os insumos cotados em dólar vão ter seus preços em real relativamente mais baixos. Porém, o que acontece é que muito do que está sendo vendido hoje no mercado já foi comprado a um dólar mais elevado, do passado. Ou seja, o que está estocado atualmente custou caro, então o comerciante não vai querer dar desconto”, explica VanDyck Silveira, economista e CEO da Trevisan Escola de Negócios.
Stahl, consultor do Sebrae-SP, completa: “A princípio, existe toda a alegria de que o dólar está caindo e que o preço da gasolina vai baixar… Mas a coisa não é tão imediata. Conforme a concorrência vai trabalhando o mercado, veremos se haverá de fato uma redução do preço dos insumos e produtos para vender com valor mais competitivo, ou se os preços serão mantidos no mesmo patamar, uma vez que a inflação já levou muito da margem dos empreendedores até o momento”.
Expectativas para o futuro
No cenário atual de queda do dólar, os pequenos e médios empreendedores se perguntam se devem aumentar os estoques de artigos importados. “É muito perigoso falarmos em aumentar os estoques. É um risco grande quando se trata de cotação do dólar, porque é difícil fazer previsões de quanto tempo isso vai durar”, opina Stahl.
Para Silveira, se o pequeno empreendedor estava precisando, por exemplo, investir em algum maquinário importado para usar em sua linha de produção, esse seria um bom momento de compra, caso consiga um preço mais baixo por conta da cotação do dólar. Porém, ele não recomenda que ninguém se descapitalize para fazer grandes estoques de mercadorias no momento. “Compraria estoque apenas dos produtos importados que sei que têm um giro muito alto no comércio, mas sem correr riscos de ficar com itens parados. É importante ter dinheiro em caixa para o futuro, inclusive para uma possível recessão que pode acontecer”, alerta ele.
A expectativa, segundo os especialistas ouvidos, é que a baixa da moeda norte-americana não dure tanto. “Talvez o dólar ainda caia mais um pouco mas, em algum momento próximo, ele vai se estabilizar e então pode voltar a subir — e subir bastante. Até o final do ano pode voltar ao patamar dos R$ 5″, afirma De Losso, professor da FEA-USP.
Isso porque há uma série de fatores que irão pesar no cenário cambial: a chamada “farra fiscal” do governo brasileiro (com aumentos salariais para servidores públicos, por exemplo); as eleições, que geram incertezas no cenário político; o aumento da inflação; e a guerra na Ucrânia, que apesar de fisicamente distante do Brasil, desencadeia consequências em todo o mundo. “Tudo isso vai impactar negativamente a taxa de câmbio e devemos ver um aumento expressivo do dólar nos próximos meses”, projeta Silveira, da Trevisan Escola de Negócios. “Nao creio que chegará a R$ 6 como alguns dizem. Mas R$ 5,50 é muito provável”, finaliza.